A vida é curta demais. O que vem depois dela? Chamam de morte, mas ninguém sabe. Só o que se sabe da vida e que ela é frágil demais, delicada, bela demais. E que nenhum pôr-do-sol é igual a outro. Não digo que ela é curta demais para nós, que somos jovens. É curta para os velhos, também. Para eles o tempo parece passar mais rápido. Digo isso porque sei. Porque ouvi.
Uma vez me disseram que morrer jovem é permanecer belo. Eu discordo, como costumo discordar de quase tudo. A velhice tem sua beleza, seu charme. Às vezes me sinto estúpida. Passo noites em claro imaginando os tipos de morte que eu poderia ter. Os objetos que eu deixaria, para quem e por quê. A dor agonizante de um último suspirar. Ou o meu velório e as pessoas que estariam lá. As que chorariam e as que não. As que pegariam em minhas mãos, as que consolariam minha família, as que não iriam porque não gostariam de ter minha éltima lembrança naquele estado. (Não tentem isso em casa. É desesperador.) Eu sei. Estupidez demais para uma pessoa que deveria viver e agarrar para si cada momento que lhe aparecer pela frente e transformá-los em belos, memoráveis, intensos. Para que durante as noites em claro eu pense que, se de súbito eu morrer, tive um dia bom.
O que mais me incomoda na morte não é o desconhecido, a dor ou a forma, mas sim a pendência. O ato não esclarecido. O perdão não concedido. A frase entalada na garganta que nunca mais vai sair. A morte não manda telegrama, aviso prévio ou dez dias para que você resolva seus problemas. Nada é certo nessa vida. Mas eu sei que me sinto muito mais em paz comigo mesma quando não tenho pendências com alguém que amo.
Um conselho? Deixe seu legado. Sua ação boa para com a humanidade. Não precisa ser algo grandioso ou famoso. Mas deve ser notável e belo. Uma carta, uma música, uma filosofia de vida, um cheiro, uma sensação, um poema. Um pedido de desculpa move o mundo. Somos tantos, tão iguais e tão diferentes. Mas temos a mesma humanidade desde que o mundo é mundo. Quando fizer alguma coisa - qualquer coisa - realmente faça. Desfrute do momento. Abuse dos sabores, cores e sensações de cada ato que fizer, por menor que seja. Espontaneidade é liberdade. Não que eu faça tudo isso. Eu não faço. E dói muito em mim reconhecer isso. Mas vou me esforçar para fazer o melhor, sempre.
Não escreva que a vida é breve na parede de seu quarto ou no espelho como forma de lembrar-se disso todos os dias. Se for para escrever, escreva que a vida é bela. E que não deve, em hipótese alguma, ter seus segundos desperdiçados. Somos o que somos: e não há meios para mudar. E, já que estamos aqui, saibamos aproveitar da melhor maneira possível. E hoje? Já olhou o céu e reparou como é belo o movimentar lento das nuvens? Deu bom dia para alguém? Um sorriso a um estranho na rua? Sentiu o ar passar pelos seus pulmões? Pediu desculpas? Agradeceu? Sentiu, mesmo, o sabor da comida, o frescor da água? Cheirou uma flor? Viu o pôr-do-sol? Contou uma história? Porque a vida é curta demais. E o tempo não nos concede pausas.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Filtro Solar
Postado por Vanessa às 10:00:00
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